quarta-feira, 8 de outubro de 2008

JOSÉ, QUERIA SER SUA IGREJA...

Hoje estava lembrando de José, rapaz inteligente, franzino, mas com o coração de gigante e com contestação voraz, como o apetite de um leão!
José fazia parte da minha igreja, somos uma igreja que temos pessoas de baixa e média classe social, José se encaixava na segunda, mas flertava e se revoltava muito com a situação da primeira, trabalhei com ele durante algum tempo, pois havia um programa de acompanhamento de jovens, um discipulado. Quando o conheci, pensei comigo:
_ “Este não vai me dar muito trabalho! Irá acompanhar os ensinamentos e acatará os ensinos sem muitos questionamentos...”, mas como citei logo no início não foi nada disto...
Ele tinha um senso que não via há muito tempo na igreja, ele realmente entendia que a igreja não era deste mundo, mas estava inserida nele, e mais ainda esta tinha e tem um dever social para com este mundo, ou seja, a igreja está aí para amenizar a maldade do mundo, e ponto final. Estes sentimentos, que há muito tempo haviam se perdido dentro de mim, ele sintetizou em um texto certa vez o que vinha acontecendo em nossa sociedade, em nosso contexto de cidade, e mais ainda, elaborou, com a sinceridade que lhe era peculiar, o papel da igreja nestas ocasiões relatadas, elaborando crítica sincera e fiel para com as atitudes tomadas por esta igreja nestes acontecimentos.
Aqui vou transcrever um texto que ele enviou para todos os membros de nossa igreja:

1 MINUTO DE SILÊNCIO

Hoje estamos vivendo realmente este “1 minuto de silêncio” do futebol, temos no início de cada partida esta homenagem, e depois segue o “jogo como se nada tivesse ocorrido”... Infelizmente, também, estamos vivendo banalização da violência por parte da sociedade em que vivemos, vale lembrar de algumas situações vividas, não de muito tempo para cá, como por exemplo a do índio Galdino, que foi incendiado por ser confundido com um morador de rua, como se todo morador de rua tivesse de ter o mesmo destino...
Tivemos também a tortura e morte do jornalista Tim Lopes, que estava denunciando onde nossos jovens, e conseqüentemente famílias estavam sendo destruídas, a situação da estudante Gabriela, morta na escadaria do metrô do Rio por causa de um assalto, no Embu em SP um jovem chefiou um grupo que torturou e matou um casal de adolescentes; tivemos o ataque em SP, seguido a isto o ataque no RJ, que não se alterou nada em termos de atitude, só “1 minuto de silêncio” e o jogo e a festa continuaram...
Pensei depois que com o que aconteceu com o menino João Hélio iríamos ter realmente uma atitude, mas logo depois tivemos um pai morto na frente do filho no RJ, e um pai morto na frente da filha em SP, mais de 60 pessoas atingidas por balas perdidas na Vila Cruzeiro, que comprovadamente através de gravações feitas, foram atingidas por ordem de marginais que fazem isto para mover a opinião pública, colocando a ação policial como sendo prejudicial...
Vemos abstratas ações ao invés de ações concretas por parte do governo, o nosso presidente disse em cadeia nacional que veríamos “a mão forte do governo federal” nesta questão, mas vemos sim ações de “milícias” civis levando ordem onde o governo deveria atuar.
O pior é que dentro de nossas casas, nossos filhos estão tendo acesso à violência, e a pornografia, com um “click” de seu dedo indicador e não fazemos nada, ou é melhor não nos “metermos”, pois eles estão quietos e têm de ter sua “privacidade”...
Temos de repensar alguns conceitos, quando realmente foi escrito este texto o episódio dos rapazes que espancaram a trabalhadora no ponto do ônibus não havia acontecido, e o que chamou mais a atenção do autor do texto, foi que “eles pensaram que ela era prostituta”, como se isso fosse atenuante para a atrocidade que eles cometeram, e o pai de um deles dizendo que seu “garoto” não podia ser colocado na prisão e tratado como marginal qualquer, pergunto o que estes jovens receberam em casa? Foi falta de atenção, pais relapsos, ou exemplo de que o próximo não merece amor, que aquele que não for parecido com ele merece sim ser extirpado do mundo, pois o que é “certo” é o padrão dele...
A igreja neste contexto é simplesmente inexistente, pois é o pior dos órgãos, não depende de governo, não depende de ninguém, mas infelizmente se tornaram caça-níqueis piores do que os da contravenção, pelo menos estes não são hipócritas, são do mal mesmo, e as igrejas ditas sérias estão fechadas em “guetos”, onde nestas se pensa que por ter aceitado Cristo as faz melhor que o outro que está no mundo, a ação desta igreja virou um “palavrório”, “crime” virou “c r i m i n a l i d a d e”, dando tempo para mais ação do bandido...
Não temos um verdadeiro posicionamento por parte deste órgão, sua força e independência a faz decisiva em definir posições a serem seguidas, pois mexe com duas forças que não são superadas por nenhuma outra, “opinião pública” e “Deus”.
A primeira, opinião pública, posso citar exemplos no mundo como Gandhi, que libertou um país com a não violência (“Sathyagara”), e com a opinião pública, Dr. King, que mexeu com os EUA em uma marcha pelos direitos civis dos afro-americanos, o sociólogo Betinho, que mobilizou o país na campanha do natal sem fome, o Dr. Hunter “Patch”Adams, que com sua “nova” maneira de fazer medicina, hoje tem a fundação “Gesundheit”, onde há atendimento gratuito para todos sem exceção, hoje ele viaja pelo mundo em lugares onde há guerra, fome, situações de epidemia, levando alegria e atendimento nestes locais...
Amados,
Onde estamos como igreja que não atenuamos este mal que bate à porta de todos, nos coloquemos como o Senhor da igreja que veio aos páreas da sociedade... Para quem estava à margem dela... Prostitutas, mulheres, crianças, leprosos, coxos, doentes fisicamente e espiritualmente, como podemos nos abster desta responsabilidade que o Cristo, Senhor de nossa vida nos deixou? Repensemos sobre nossas prioridades como cristãos e sigamos realmente a nosso Mestre!!
Deus os abençoe!!

Isto veio igual a um rolo compressor sobre meu coração, acendeu a chama que me havia levado em direção a Igreja de Cristo, mas infelizmente havia “me institucionalizado”, me adaptei, virei “figurinha comum” inserida neste universo...
Este menino, franzino, feio, pequeno me atingiu igual a Davi em Golias, me desconcertou...
Infelizmente não foi visto da mesma maneira pela “nossa grande igreja”, pois fomos repreendidos eu e ele pela sua atitude, eu por ter deixado e ele por ter feito o texto, que para alguns principalmente da liderança, um moleque não tinha a autoridade de exortar a igrejinha ali situada!
Hoje sinto falta do José, pois ele saiu desde este episódio e nunca mais tive contato com ele, pode ter sido arroubo infantil ele ter nos deixado, mas não creio que tenha sido maturidade minha ter continuado na igrejinha e não ter ido para a “Grande Igreja de Cristo” como ele costumava definir... Me sinto covarde e cada vez mais institucionalizado...

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